Por Luciana Lachance
A católica hoje não tem mais a família que a rodeie de cuidados e de reservas, especialmente quando o assunto é a sua castidade e pureza. Em tempos tão difícieis como os nossos, em que os costumes e as virtudes foram distorcidos e até mesmo abandonados, fica-se apenas a sensação de que certos assuntos não são mais do interesse da Igreja. Falando dos antigos namoros, mesmo as pessoas que se pretendem virtuosas se riem deles, como de velhas regras de colégios dos tempos passados. “É, eram outros tempos… o rapaz não podia ficar sozinho com a moça…”
Não lhes ocorre – ou talvez finjam não recordar – que todo o pudor de “antigamente” não era excentricidade de uma época simplesmente, como se o próprio tempo desse a direção da moral. Ora, era 1910! Era em 1860! Quando, na realidade, o correto seria dizer: Era quando a moral católica era seguida, quando tudo não havia sido revolucionado!
Esta moral católica, rígida e imutável, continua e continuará a mesma até o fim do mundo. Ela atravessou diferentes épocas, com seus costumes variados, combateu muitas coisas nefastas, e em todos os séculos – até mesmo na Idade Média – houve terríveis transgressões e afrontas; pois do contrário, estaríamos falando de uma época paradisíaca, em que ninguém era condenado ao Inferno por estas questões.
A grande diferença, desde que a civilização cristã triunfou no Ocidente, é que nos nossos dias a moral católica está esquecida: sofreu duros golpes sobretudo a partir da Revolução Francesa, e foi verdadeiramente assaltada de morte no século XX. Tudo o que dizia respeito aos mandamentos de Deus e da Igreja, especialmente quanto aos valores da castidade e da modéstia, foi sendo sistematicamente apagado, e chegamos ao ponto em que ninguém vai à missa ou frequenta os sacramentos, em que cada um resolve apagar algum dos mandamentos no seu catolicismo. Há aqueles que são católicos “praticantes” mas não acreditam que precisam ir à missa aos Domingos. Há os que, na impossibilidade de comungar, nada fazem para mudar de vida, bem como os católicos que evitam ter os filhos que Deus quer porque usam métodos contraceptivos. E há grande número dos que apagam o sexto mandamento: não pecar contra a castidade!
Grande preocupação é, portanto, a moça católica que namora hoje. Dentro desse mundo caótico, ela está à própria sorte, e por isso é de extrema importãncia que se traga à discussão novamente como ela pode preservar a sua pureza dentro da realidade em que nos encontramos. Falemos da moça, por ora, apenas porque como educadoras e mães que naturalmente somos, cabe a nós reeducar as famílias e os hábitos; quanto aos rapazes, igualmente devem guardar a pureza e a castidade, pois Nosso Senhor não os julgará segundo os “imaginários” da sociedade moderna (em que ao homem é “permitido” liberdades), mas segundo os mesmos mandamentos da Lei.
A realidade
Em linhas gerais, sabemos que a realidade anda cruel ao ponto de que boa parte da dita juventude não guarda a castidade; sabemos no entanto que os dados estatísticos mostram que a maioria dos jovens ainda diz ter religião (mesmo quando se referem mais á família do que a si próprios) e que portanto, assinalam que são “católicos”. São os mesmos jovens que são pautas de discussões de preservativos, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência, “primeira vez”. Preciso deixar claro que não é destes jovens “católicos” que estou falando – e reitero isso, embora seja bastante óbvio, porque os católicos praticantes estão envolvidos em muitos erros com relação à castidade e à modéstia, mas acabam achando que quaisquer críticas com relação à conduta acabam recaindo sobre estes católicos de IBGE e estatísticas, e nunca aos católicos que estão no seio da Igreja, participando de grupos, etc. Quando me refiro, portanto, às moças católicas que namoram, estou fazendo referência às que realmente vivem a religião, mas que ainda asim têm muita dificuldade de seguir as recomendações da Igreja, por inúmeras razões.
A principal delas é que infelizmente os padres não falam mais nesses assuntos, nem dirigem exortações à pureza que exigiam de todos a seriedade na prática dabela virtude! Mesmo alguns sacerdotes acham “normais” certas liberdades dos jovens católicos, parando apenas quando se refere ao ato sexual propriamente dito. Eis a única coisa que parece ser exigida para a moça católica: que não deixe a relação chegar a tal ponto! (E mesmo se chegar, não é encarado com a tamanha gravidade que lhe é devida)
A moça católica se pergunta: mas então, o que é o namoro católico? Se já não é mais possível que as famílias tratem do assunto, se todo o mundo se transformou de tal maneira que esta moça é quem tem de cuidar ela mesma do seu futuro, de que maneira ela poderia agir? Primeiramente, uma coisa precisa ser relembrada e seguida: o namoro católico só existe com intenção de casamento, e portanto deve tornar-se brevemente num noivado. Não tendo mais família que se importe com este fato, terá ela mesma de se lembrar desta condição, e fazer valer a prerrogativa. Dito isso, se a moça católica tem um namorado, mas ainda não tem certeza se ele será seu futuro marido (ou mesmo se ambos desejam isso), a situação é preocupante. Não existe “conhecer” uma pessoa do sexo oposto namorando, para depois pensar nos “temas sérios”. È preciso que a moça católica tenha muita certeza de sua vocação matrimonial, encontre um rapaz digno que tenha igual certeza de sua vocação, para que alguma aproximação seja possível.
Uma vez que estamos falando de uma situação muito distante da ideal, teremos de ter muita cautela e nos apoiarmos nos santos para conseguirmos “driblar” as dificuldades do mundo moderno. É certo que o tema mais delicado é o de que espécies de intimidades são permitidas aos namorados – e já nesta pergunta identificamos um erro da premissa. Exceto às intimidades de almas que se unem pela oração e pela devoção, antes do matrimônio nenhuma intimidade é permitida. Contudo, estando comprometido em contrair matrimônio, o noivo ganha os direitos de demonstrar seu afeto, sem ferir a dignidade, e pode seguras as mãos de sua noiva, ou tocar no seu rosto (pois são partes honestas do corpo). Cumprimentar dando beijos no rosto ou nas mãos é também lícito¹. São Francisco de Sales escreveu:
“Nunca é lícito usar dos sentidos para um prazer impuro, de qualquer maneira que seja, a não ser num legítimo matrimônio, cuja santidade possa por justa compensação reparar o desaire que a deleitação importa. No próprio casamento há de guardar a honestidade da intenção (…)”²
Com usar dos sentidos o santo deixa muito claro que abraços, corpos próximos e beijos na boca – parte muito íntima – não são permitidos àqueles que ainda não se casaram. Santo Anfonso de Ligório e Padre Pio escrevem coisas indispensáveis sobre o assunto. Embora seja evidente que os casais de namorados católicos fiquem chocados com a proibição de beijos na boca, é preciso tranquilidade para que eles próprios consigam, a partir do momento em que se preocupam verdadeiramente com a castidade, orar ainda mais para manter a virtude.
Certas verdades parecem evidentes apenas quando somos chamados severamente à atenção, e a moça católica muitas vezes não pára para pensar nas espécies de liberdades que permite com a desculpa de que são “inocentes”. E então ela pode examinar se inocentes foram os beijos apaixonados, os encontros no cinema, as fotos “românticas”, os momentos dedicados exclusivamente a “estarem juntos”. Que ela possa comparar, com honestidade, todos estes momentos com as diretrizes da Igreja acerca da castidade, nos pensamentos e nas ações. Que ela, enfim, seja capaz de perceber quanta transgressão da santa castidade ocorre entre os casais que se permitem estas aproximações imprudentes.
Como estas são verdades esquecidas, tudo o que sobrou do que seja um namoro casto são aquelas caricaturas da moça “certinha” que “espera até o casamento”, mas que está de tal maneira propensa às outras intimidades, que acaba sempre naquelas situações constrangedoras. Há grupos católicos que, inspirados por essas “modas” de defender a virgindade, a exemplo dos anéis de castidade, fazem campanhas como ” Castidade: Deus quer, você consegue!”, como se a castidade pudesse ser unicamente reduzida a não ter “relações” antes do casamento. Por isso a juventude acha que não há nenhum problema em vestir as roupas da moda (há castidade sem modéstia?), ver filmes com aquelas ceninhas imorais, ouvir músicas que falam claramente do que lhes é proibido, e por aí vai. Tudo isso é transgressão da castidade, mas as pessoas atualmente compraram o imaginário de que casta é a protagonista de “Um amor para recordar“.
No Blog “The Catholic young Woman”³, uma moça certa vez levantou a hipótese de guardar o seu primeiro beijo para o futuro marido, no dia de seu casamento. Ela fez questão de apontar que não se achava superior a ninguém fazendo isto, e que era uma escolha bastante pessoal. Ela condenava apenas os beijos apaixonados, e não os que, segundo ela, seriam “castos”. A iniciativa tratava-se, portanto, de mais uma desses coágulos da juventude que sente falta da perfeição cristã, mas lhes falta doutrina. Ela poderia ter simplesmente resolvido a questão usando a doutrina eterna da Igreja Católica, com alguma citação de Santo Afonso ou pelo menos usando a lógica (beijos nunca foram permitidos antigamente, desde Cristo, até digamos, a minha avó). Mas como disse Dr. Plinio Correa de Oliveira em A inocência primeva, hoje em dia ninguém quer ser melhor ou pior do que ninguém, mas apenas igual. E mesmo quando chegam tão próximos à verdade, como chegou esta moça que deu até belas razões para sua decisão, pedem tantas desculpas por medo de serem julgadas como diferentes, que tudo é esvaziado de sentido. Se você souber ler em inglês, vale a pena ver os comentários do post com os testemunhos das pessoas – é interessante ver que mesmo sem muita informação, as pessoas sabem que não é nada impossível ser fiel às virtudes.
Notas
¹ Os beijos e abraços libidinosos são sempre pecados mortais. Se dados em partes desonestas ou menos honestas do corpo, facilmente podem constituir pecado mortal. (…) Ao contrário, beijos e abraços, aperto de mão, que se dão segundo os costumes civis da cortesia, amizade, benevolência, são lícitos.
Compêndio de Teologia Moral, Torre Del Greco
² São Francisco de Sales: FILOTÈIA
Em Jesus e Maria,
Débora Cristina